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segunda-feira, 9 de maio de 2011

AO PÉ DA LETRA

Prof. Pasquale
                                                           Prof. Pasquale

"O presidente sugere que..."

A coluna da semana passada tratou do uso dos modos verbais. Vimos que construções como “Um medicamento que fulmina a dor de estômago” e “Um medicamento que fulmine a dor de estômago” são mais do que possíveis - a opção por uma delas depende do plano em que se põe o processo expresso pelo verbo (“fulminar”, no caso). Com “fulmina” (do presente do indicativo), põe-se esse processo no plano da certeza (sabe-se ou se tem como certo que o tal remédio elimina a dor de estômago). Com “fulmine”, o processo é posto no plano da suposição, do desejo, da hipótese etc.


A mesma situação se verifica neste par: “A empresa quer investir em programas que objetivam/objetivem solucionar de vez o problema”. A questão nem de longe envolve o conceito de “certo e errado”, por isso é bom dizer logo que as duas formas são perfeitamente possíveis. O que decide a escolha é o plano em que se quer (ou queira) pôr o processo expresso pelo verbo “objetivar”. A opção por “objetivam” (do presente do indicativo) coloca o processo no plano da certeza, da realidade (é tido ou dado como certo que as ações objetivam solucionar de vez o problema). A opção por “objetivem” (do presente do subjuntivo) põe no plano da suposição, da hipótese ou da dúvida o processo expresso pelo verbo “objetivar”.

Essa conversa sobre a escolha do modo verbal nos faz relembrar uma questão do vestibular da Unicamp, em que esse tema foi abordado sob um aspecto muito interessante. O enunciado da questão era o seguinte: “Em 28/11/2003, quando muito se noticiava sobre a reforma ministerial, a Folha de S. Paulo publicou uma matéria intitulada ‘Lula sugere que Walfrido e Agnelo ficam’. Considerando as relações entre as palavras que compõem o título da matéria, justifique o uso do verbo ‘ficar’ no presente do indicativo”.

A solução da questão apresentada pela Unicamp é semelhante à que discutimos no texto da semana passada e no início da coluna de hoje? Não é, caro leitor. Agora estão em jogo algumas sutilezas que... Bem, vamos a uma delas, que diz respeito ao significado de “sugerir”. Quando se diz algo como “Sugiro que você apure seu gosto musical”, o verbo “sugerir” significa “fazer uma sugestão”, “propor”, “aconselhar” ou (belo sinônimo) “alvitrar”. O fato de A sugerir a B que apure o gosto musical não garante que B fará isso. O ato de apurar, portanto, é posto no plano da hipótese, da possibilidade, o que explica o emprego do modo subjuntivo (“que apure”).

Se no título jornalístico destacado pela Unicamp a forma “ficam” fosse trocada por “fiquem”, o verbo “sugerir” teria o sentido que já vimos, ou seja, o de “propor”, “fazer sugestão”. Com isso, dir-se-ia que o presidente propunha a permanência de Walfrido e Agnelo no ministério. A decisão de ficar estaria nas mãos dos “convidados”, ou seja, de Walfrido e Agnelo. No título publicado, a forma empregada (“ficam”) muda tudo. Essa forma, do presente do modo indicativo, dá ao verbo “sugerir” o significado de “dar indícios”, “deixar vazar”, “dar pistas”, “dar sinais”. Falastrão, Lula deve ter dado a entender, isto é, deve ter sugerido que os dois ficariam no ministério. Não se pode esquecer que Lula era o presidente da República (a Constituição dá ao presidente a prerrogativa de nomear e/ou demitir os integrantes do ministério). Com “sugere que ficam”, acentua-se que a escolha cabe ao presidente (e essa escolha já tinha sido feita).


Até segunda. Um forte abraço.
http://www.opovo.com.br/app/colunas/aopedaletra/2011/05/09/noticiaaopedaletra,2237043/o-presidente-sugere-que.shtml

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