Total de visualizações de página

terça-feira, 14 de junho de 2011

Serra da Ibiapaba, no Ceará, especializa-se no cultivo de rosas

 http://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2011/06/serra-da-ibiapaba-no-ceara-se-especializa-no-cultivo-de-rosas.html

Gaúcho viu no clima regular da Serra uma oportunidade de negócios.
Empresa produz 25 variedades de rosas.

Do Globo Rural
Há pouco mais de dez anos, moradores da Serra da Ibiapaba, no Ceará, viram surgir um novo tipo de cultivo. A agricultura girava em torno do feijão, do milho e da mandioca, mas teve suas terras tomadas pelas rosas.
Tudo começou com o gaúcho Paulo Selbach. Como representante de uma fábrica de sapatos, costumava passar pela Serra da Ibiapaba, na divisa entre o Ceará e o Piauí. Quando pernoitava na cidade de São Benedito, a 900 metros acima do nível do mar, o friozinho da serra despertava lembranças. “Comecei a lembrar do meu pai, que sempre dizia que o clima ideal para roseira seria o que se mantivesse o mesmo o ano inteiro. Você tiraria flor o ano inteiro”, diz Selbach.

Junto com o pai, Miro, Paulo já tinha produzido rosas na cidade de Portão, no Rio Grande do Sul. O plantio na serra não era um sonho tão distante, mas ficou arquivado por 10 anos. “No início de 1999, botei na minha cabeça: agora vou fazer esse negócio”, conta. Paulo foi em frente e criou a Cearosa. Doze anos se passaram e a área plantada acaba de ser ampliada de sete para 12 hectares de estufas.
Quem cuida do cultivo é o agrônomo Julio Simanca. Julio veio da Colômbia, país com tradição em produzir rosas de boa qualidade. Em 1999, ele foi contratado pelo governo do estado do Ceará para avaliar as condições para a produção de rosas na serra e acabou ficando. Sobre as condições que favoreceram a entrada do cultivo na região, ele explica: “Uma temperatura média de 24°C a 25°C. À noite, normalmente, temos entre 15°C e 20°C, e, durante o dia, pode chegar a 30°C ou 35°C. E também uma luminosidade muito importante, mas que, durante sete meses, é excessiva e nós temos que procurar mecanismos para quebrar essa luminosidade, seja com plástico ou telas”.
Para quem entra pela primeira vez nas estufas, o cenário pode ser até um pouco decepcionante. É que não se vê aquela porção de rosas bonitas, abertas e coloridas. A colheita é feita quando elas ainda estão fechadas. Algumas variedades são mantidas com uma proteção, chamada de capucho, que protege da radiação solar. Um hormônio de crescimento deixa o botão maior.
Na empresa, as roseiras são todas enxertadas. Uma variedade que forma boas raízes é unida com outra que dá um botão bem aceito pelo mercado. Simônia Maria está na empresa há dez anos e lembra que, por preconceito, o trabalho aqui era recusado pela maioria dos homens. Foi preciso a rosa criar raízes na região para que os cearenses aceitassem a nova cultura com naturalidade. Agora, homens e mulheres trabalham lado a lado.
No dia de plantio das mudinhas nas estufas, quando surgem os primeiros botões, sem dó, eles são retirados. Isso economiza energia para que a planta se dedique a formar mais folhas.
Quando a planta atinge três semanas, precisa de um novo estímulo para continuar sua formação. É nessa etapa que é feita a chamada dobradura. Os galhos são dobrados, mas sem quebrar. Três meses depois, os galhos que foram dobrados formam uma saia verde. É como se fosse o pulmão da roseira, que vai fazer a fotossíntese e permitir a formação de hastes longas e de qualidade.
Aos quatro meses, a roseira vai emitir seu primeiro botão comercial, para valer, e vai permanecer produtiva por uns quatro ou cinco anos, mas uma flor bonita pode ter vida mais curta se o mercado deixar de comprar.
A empresa produz 25 variedades de rosas. Outras 300 estão em teste na estufa. Por isso, estão lindas, com os botões abertos. É para testar a durabilidade e a resistência ao clima e a pragas e doenças. “Todas as variedades vêm de fora. No Brasil, não tem hibridadores. São francesas, holandesas, italianas, da Nova Zelândia. Eles têm representantes no Brasil, todos situados em São Paulo. Cinco variedades daqui podem ir para o mercado, só que aí o mercado pode chegar e dizer que não quer. Tem moda”, afirma Selbach.
Uma vez definida a rosa que pretende cultivar, Paulo paga royalties para a empresa que desenvolveu a variedade: cerca de um dólar a cada muda plantada. É preciso então que rendam muitas flores. E quanto mais longa a haste, mais cara.
É no galpão de embalagem que as flores são separadas por tamanho, embaladas e colocadas na câmara fria para esperar pelo transporte até Fortaleza e, depois, até os pontos de venda.
Passam pelo galpão, em média, 30 mil hastes por dia.
Quem cuida da venda é Gabriela Selbach, filha de Paulo. Ela conta que a empresa, criada visando à exportação, hoje prefere vender apenas para o mercado interno. “Já mandamos rosas para Portugal, Rússia, Alemanha, mas, hoje em dia, a exportação não está valendo a pena. A gente tem um preço muito bom de venda aqui no país. Se eu for exportar, transformar meu preço em dólar, eles já não querem pagar, porque, às vezes, fica mais caro que a melhor rosa do mundo, que é a colombiana e a equatoriana”, diz.
“No ano passado, pelos dados que a gente tem, o crescimento da indústria das flores no Brasil como um todo foi de 15%. Nós acreditamos que, esse ano, cresça de novo 15%. Nós temos mais classes sociais entrando no segmento da compra de flores. E tem mercado para mais produtores. Onde nós estamos, na serra da Ibiapaba, no Ceará, nós podemos expandir essa produção para toda uma parte do Nordeste e do Norte, onde não se produzem flores e se consomem”, completa Paulo.
A prova de que há mesmo espaço para mais gente está no município vizinho, Ubajara, com gente que ainda está aprendendo. Mires Aguiar tinha uma floricultura em Fortaleza. Há cinco anos, fechou o negócio. Virou agricultora e hoje produz seus próprios crisântemos. Hoje, Mires mantém uma pequena estufa com as mudas que compra a cada 15 dias de São Paulo e planta em terreno próprio.
“Temos 20 hectares de terra em que dá para trabalhar. Aproximadamente, hoje, estamos plantando em um hectare. É pouco. Estamos começando a abrir terra para ver se a gente fecha o ano com dois hectares”, afirma Mires, que conta com a ajuda de seis trabalhadores e do marido, Luiz, que antes era vendedor de carros. “A renda ainda está a mesma coisa de antes, mas só com mais tranquilidade. Aqui nós estamos trabalhando com recurso próprio, não tem banco, nada. E o que se pega, se coloca na própria terra”, diz Luiz.
Hoje, Mires colhe 300 pacotes de crisântemos por semana. Dirigindo o seu carro, entrega pessoalmente no município vizinho. É a empresa de Paulo Selbach que compra as flores para compor seu buquê de produtos, uma parceria que resolveu o problema de comercialização de Mires.
A mudança de vida separou Mires dos três filhos, que só vê pelas fotos no computador. É com a renda das flores que ela ajuda a mais velha, Lusiane, a pagar a faculdade de enfermagem. “O meu sonho é ela terminar, fazer a faculdade dela, concluir. Esse é o nosso objetivo, fazer alguma coisa para levar a felicidade para eles”, diz Mires.

Nenhum comentário:

Postar um comentário