Por: Anselmo Massad, Rede Brasil Atual
Fernando Henrique Cardoso tentou “desmontar” Lula ao criticar aspectos criticados em sua própria gestão, diz cientista político (Foto: Renato Araújo/Agência Brasil – arquivo)
São Paulo – A sugestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de que o PSDB deveria preocupar-se menos com o “povão” e concentrar-se apenas na nova classe média pode representar um tiro no pé dos tucanos, na visão do cientista político Humberto Dantas. O analista lembra que o partido falha ao atingir camadas mais pobres da sociedade há bastante tempo e que a medida não representaria exatamente uma novidade. Dantas critica ainda a prática da oposição de agir “com pesquisa debaixo do braço”, deixando de lado a fiscalização do poder e a consolidação de um discurso ideológico claro.
“A oposição pode dar um tiro no pé”, resume. “Em uma eleição majoritária (para presidente, governador ou prefeito), é difícil abrir mão de setores inteiros da sociedade. Ainda mais porque o PSDB falha ao não conseguir falar com esse ‘povão’ há algum tempo, especialmente quando se associa à questão geográfica”, opina. Dantas lembra que uma das principais dificuldades da candidatura de José Serra à Presidência da República em 2010 foi a baixa penetração no Nordeste e no Norte do país.
No início da semana, um artigo de Fernando Henrique à revista Interesse Nacional ganhou as manchetes de jornais paulistas. No texto, entre outros pontos, ele defende que a oposição deveria voltar-se para as “novas classes possuidoras”, alheias ao jogo partidário e mais ligadas a redes sociais na internet. Para isso, deveria dar menos prioridade ao “povão”, quer dizer, das camadas mais pobres, que estariam “cooptadas” por sindicatos e centrais sindicais.
Apesar de considerar a polêmica fraca, por envolver uma disputa com argumentos limitados, Dantas acredita que o PSDB já tem demonstrado dificuldade de dialogar com os setores mais pobres, tarefa exercida com competência inédita na história pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A oposição tem, na visão do analista, dois papéis e um desafio. A consolidação de um discurso ideológico consistente e a fiscalização do governo seriam as funções. O desafio estaria em comunicar essa visão de mundo de maneira efetiva, de modo a “grudar na opinião pública”, segundo termos de Dantas. Ao fazer isso, seria possível aproveitar um momento de fraqueza dos grupos que comandam o governo para aumentar a projeção e até vencer eleições, à exemplo do que obteve o PT em 2002.
O PSDB tem sido pouco hábil nos três pontos, na visão do cientista político. “O DEM até se mostrou mais disposto a fiscalizar ao criar um painel com promessas de Dilma (Rousseff), mas o partido já fez promessas de grandes ações no passado recente que não foram adiante”, lembra. Na quarta-feira (13), o Democratas lançou um portal em que promete monitorar 230 promessas da presidenta. Dantas lembra, porém, que a legenda chegou a anunciar uma caravana em 2009 para fiscalizar ações do governo Lula, que não decolou.
As críticas dizem respeito a contradições entre a condução do governo e declarações anteriores. Atribui-se a Fernando Henrique a frase: “Esqueçam o que eu escrevi”. Outro ponto é o exagero de Medidas Provisórias empregadas por Lula, aspecto também criticado durante a administração do tucano – 334 contra 414. O terceiro alvo é o uso de emendas parlamentares como moeda de troca por apoio em momentos decisivos no Congresso Nacional. Nos três pontos, Dantas vê excessos e erros nas gestões dos dois últimos ex-presidentes.
O cientista político acredita ainda que a oposição, mesmo minoritária, pode se destacar se for capaz de fazer barulho e “seduzir a mídia e a opinião pública com suas descobertas”. O PT só conquistou a maior bancada na Câmara dos Deputados em 2002, perdendo o posto no ano seguinte, com a saída de dissidentes para a criação do PSOL. O feito seria recuperado apenas em 2010. Na década de 1990, os petistas ficavam como quarta força na Casa, mas foram capazes de ganhar projeção.
A conduta de partidos como PSDB, DEM e PPS tem sido baseada na forma como o eleitorado vê a situação. “A oposição não pode agir com pesquisa debaixo do braço; isso quem pode fazer é o governo, para avaliar se o que faz está sendo bem avaliado. A oposição precisa disputar a percepção das pessoas e não olhar e esperar que os eleitores apoiem o governo.”
“A oposição pode dar um tiro no pé”, resume. “Em uma eleição majoritária (para presidente, governador ou prefeito), é difícil abrir mão de setores inteiros da sociedade. Ainda mais porque o PSDB falha ao não conseguir falar com esse ‘povão’ há algum tempo, especialmente quando se associa à questão geográfica”, opina. Dantas lembra que uma das principais dificuldades da candidatura de José Serra à Presidência da República em 2010 foi a baixa penetração no Nordeste e no Norte do país.
No início da semana, um artigo de Fernando Henrique à revista Interesse Nacional ganhou as manchetes de jornais paulistas. No texto, entre outros pontos, ele defende que a oposição deveria voltar-se para as “novas classes possuidoras”, alheias ao jogo partidário e mais ligadas a redes sociais na internet. Para isso, deveria dar menos prioridade ao “povão”, quer dizer, das camadas mais pobres, que estariam “cooptadas” por sindicatos e centrais sindicais.
Apesar de considerar a polêmica fraca, por envolver uma disputa com argumentos limitados, Dantas acredita que o PSDB já tem demonstrado dificuldade de dialogar com os setores mais pobres, tarefa exercida com competência inédita na história pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A oposição tem, na visão do analista, dois papéis e um desafio. A consolidação de um discurso ideológico consistente e a fiscalização do governo seriam as funções. O desafio estaria em comunicar essa visão de mundo de maneira efetiva, de modo a “grudar na opinião pública”, segundo termos de Dantas. Ao fazer isso, seria possível aproveitar um momento de fraqueza dos grupos que comandam o governo para aumentar a projeção e até vencer eleições, à exemplo do que obteve o PT em 2002.
O PSDB tem sido pouco hábil nos três pontos, na visão do cientista político. “O DEM até se mostrou mais disposto a fiscalizar ao criar um painel com promessas de Dilma (Rousseff), mas o partido já fez promessas de grandes ações no passado recente que não foram adiante”, lembra. Na quarta-feira (13), o Democratas lançou um portal em que promete monitorar 230 promessas da presidenta. Dantas lembra, porém, que a legenda chegou a anunciar uma caravana em 2009 para fiscalizar ações do governo Lula, que não decolou.
Mais erros
Segundo Dantas, Fernando Henrique Cardoso errou ainda ao concentrar, no artigo, críticas a três pontos do governo Lula que também foram amplamente criticados em sua própria gestão. “O artigo tenta desmontar a figura de Lula em posições nas quais Fernando Henrique não tem moral”, lamenta.As críticas dizem respeito a contradições entre a condução do governo e declarações anteriores. Atribui-se a Fernando Henrique a frase: “Esqueçam o que eu escrevi”. Outro ponto é o exagero de Medidas Provisórias empregadas por Lula, aspecto também criticado durante a administração do tucano – 334 contra 414. O terceiro alvo é o uso de emendas parlamentares como moeda de troca por apoio em momentos decisivos no Congresso Nacional. Nos três pontos, Dantas vê excessos e erros nas gestões dos dois últimos ex-presidentes.
O cientista político acredita ainda que a oposição, mesmo minoritária, pode se destacar se for capaz de fazer barulho e “seduzir a mídia e a opinião pública com suas descobertas”. O PT só conquistou a maior bancada na Câmara dos Deputados em 2002, perdendo o posto no ano seguinte, com a saída de dissidentes para a criação do PSOL. O feito seria recuperado apenas em 2010. Na década de 1990, os petistas ficavam como quarta força na Casa, mas foram capazes de ganhar projeção.
A conduta de partidos como PSDB, DEM e PPS tem sido baseada na forma como o eleitorado vê a situação. “A oposição não pode agir com pesquisa debaixo do braço; isso quem pode fazer é o governo, para avaliar se o que faz está sendo bem avaliado. A oposição precisa disputar a percepção das pessoas e não olhar e esperar que os eleitores apoiem o governo.”
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