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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Para analista, sugestão de FHC pode ser “tiro no pé” da oposição

Ao defender que oposição deixe de priorizar o “povão”, ex-presidente mostra leitura errada. Para o cientista político, oposição mostra-se fraca ao agir com “pesquisa de baixo do braço”
Por: Anselmo Massad, Rede Brasil Atual
Para analista, sugestão de FHC pode ser "tiro no pé" da oposição Fernando Henrique Cardoso tentou “desmontar” Lula ao criticar aspectos criticados em sua própria gestão, diz cientista político (Foto: Renato Araújo/Agência Brasil – arquivo)
São Paulo – A sugestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de que o PSDB deveria preocupar-se menos com o “povão” e concentrar-se apenas na nova classe média pode representar um tiro no pé dos tucanos, na visão do cientista político Humberto Dantas. O analista lembra que o partido falha ao atingir camadas mais pobres da sociedade há bastante tempo e que a medida não representaria exatamente uma novidade. Dantas critica ainda a prática da oposição de agir “com pesquisa debaixo do braço”, deixando de lado a fiscalização do poder e a consolidação de um discurso ideológico claro.

“A oposição pode dar um tiro no pé”, resume. “Em uma eleição majoritária (para presidente, governador ou prefeito), é difícil abrir mão de setores inteiros da sociedade. Ainda mais porque o PSDB falha ao não conseguir falar com esse ‘povão’ há algum tempo, especialmente quando se associa à questão geográfica”, opina. Dantas lembra que uma das principais dificuldades da candidatura de José Serra à Presidência da República em 2010 foi a baixa penetração no Nordeste e no Norte do país.
No início da semana, um artigo de Fernando Henrique à revista Interesse Nacional ganhou as manchetes de jornais paulistas. No texto, entre outros pontos, ele defende que a oposição deveria voltar-se para as “novas classes possuidoras”, alheias ao jogo partidário e mais ligadas a redes sociais na internet. Para isso, deveria dar menos prioridade ao “povão”, quer dizer, das camadas mais pobres, que estariam “cooptadas” por sindicatos e centrais sindicais.
Apesar de considerar a polêmica fraca, por envolver uma disputa com argumentos limitados,  Dantas acredita que o PSDB já tem demonstrado dificuldade de dialogar com os setores mais pobres, tarefa exercida com competência inédita na história pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A oposição tem, na visão do analista, dois papéis e um desafio. A consolidação de um discurso ideológico consistente e a fiscalização do governo seriam as funções. O desafio estaria em comunicar essa visão de mundo de maneira efetiva, de modo a “grudar na opinião pública”, segundo termos de Dantas. Ao fazer isso, seria possível aproveitar um momento de fraqueza dos grupos que comandam o governo para aumentar a projeção e até vencer eleições, à exemplo do que obteve o PT em 2002.
O PSDB tem sido pouco hábil nos três pontos, na visão do cientista político. “O DEM até se mostrou mais disposto a fiscalizar ao criar um painel com promessas de Dilma (Rousseff), mas o partido já fez promessas de grandes ações no passado recente que não foram adiante”, lembra. Na quarta-feira (13), o Democratas lançou um portal em que promete monitorar 230 promessas da presidenta. Dantas lembra, porém, que a legenda chegou a anunciar uma caravana em 2009 para fiscalizar ações do governo Lula, que não decolou.

Mais erros

Segundo Dantas, Fernando Henrique Cardoso errou ainda ao concentrar, no artigo, críticas a três pontos do governo Lula que também foram amplamente criticados em sua própria gestão. “O artigo tenta desmontar a figura de Lula em posições nas quais Fernando Henrique não tem moral”, lamenta.
As críticas dizem respeito a contradições entre a condução do governo e declarações anteriores. Atribui-se a Fernando Henrique a frase: “Esqueçam o que eu escrevi”. Outro ponto é o exagero de Medidas Provisórias empregadas por Lula, aspecto também criticado durante a administração do tucano – 334 contra 414. O terceiro alvo é o uso de emendas parlamentares como moeda de troca por apoio em momentos decisivos no Congresso Nacional. Nos três pontos, Dantas vê excessos e erros nas gestões dos dois últimos ex-presidentes.
O cientista político acredita ainda que a oposição, mesmo minoritária, pode se destacar se for capaz de fazer barulho e “seduzir a mídia e a opinião pública com suas descobertas”. O PT só conquistou a maior bancada na Câmara dos Deputados em 2002, perdendo o posto no ano seguinte, com a saída de dissidentes para a criação do PSOL. O feito seria recuperado apenas em 2010. Na década de 1990, os petistas ficavam como quarta força na Casa, mas foram capazes de ganhar projeção.
A conduta de partidos como PSDB, DEM e PPS tem sido baseada na forma como o eleitorado vê a situação. “A oposição não pode agir com pesquisa debaixo do braço; isso quem pode fazer é o governo, para avaliar se o que faz está sendo bem avaliado. A oposição precisa disputar a percepção das pessoas e não olhar e esperar que os eleitores apoiem o governo.”

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