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domingo, 29 de maio de 2011

50% das escolas do CE terão tempo integral até 2020

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A carga horária estendida de sete horas diárias não é uma proposta nova e vem sendo discutida há 10 anos. Agora, tornou-se uma meta do Governo e dos Municípios
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Os alunos participam de um ‘almoço pedagógico’, junto com os colegas, professores e direção da escola
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Atividades recreativas, esportivas e culturais são comuns no contraturno, informa o professor Idelvado Bodïão
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Em Fortaleza, o aumento da permanência em sala de aula é bem recebido por professores, pais e alunos 
Cinquenta por cento das escolas públicas de Educação Básica do País deverão oferecer a seus alunos jornada ampliada até 2020. A proposta, que não é nova e já vem sendo discutida há pelo menos dez anos, volta à cena. O projeto está sendo amplamente debatido nos estados e municípios neste momento em que tramita no Congresso Nacional a análise do Plano Nacional da Educação (PNE) para o decênio 2011-2020.

A proposta de ampliação da jornada por um período mínimo de sete horas suscita um outro debate: tempo integral é garantia de educação integral? Enquanto estudiosos e educadores apontam os requisitos básicos para que a medida contida no PNE atinja seus objetivos, na Capital o projeto de tempo integral na rede pública de ensino é mais do que bem recebido por professores, pais e alunos.

“O tempo integral na escola pública é o meu sonho enquanto educadora”, enfatiza a coordenadora escolar da Escola de Ensino Fundamental e Médio Noel Hugnen de Oliveira Paiva, Maria Lúcia Mendonça Gomes. Ela lembra que a permanência do aluno por mais tempo na escola “retira muitas crianças da situação de alta vulnerabilidade, além de oferecer mais condições para a aprendizagem”.

Já Aluízio Dias de Oliveira, 17 anos, estudante do primeiro ano do Ensino Médio daquela unidade de ensino, confessa não saber “como isso vai funcionar na prática, mas com certeza será uma coisa muito boa pra gente”, afirmou.

Mãe de dois alunos de escolas da rede pública, Francisca Moreira da Silva, 38 anos, admite que sempre encontrou dificuldades para trabalhar, por não contar com ninguém para ficar com os filhos e ajudá-los nas tarefas de casa. “Tenho esperança de que essa medida seja mesmo aplicada pelo governo”, diz.

Permanência
“A proposta é boa. É interessante. Mas quando falamos em jornada ampliada, a primeira pergunta que surge é: e o que eles irão fazer quando ficarem mais tempo na escola?”, observa o professor aposentado e ex-pró-reitor de Extensão da Universidade Federal do Ceará (UFC), Marcondes Rosa.

Para ele, quando se trata de criança e adolescente, quanto maior o tempo de permanência na escola, mais produtiva deverá ser a educação. Contudo, alerta que “a escola não pode funcionar como um depósito para alunos”, frisa, antecipando que o tempo integral deveria oferecer educação assistida e aprendizagem de diversas matérias.

O professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC) e ex-secretário de Educação do Município, Idevaldo Bodião, ressalta que a proposta “não é nova”, pois já estava incluída no Plano Nacional de Educação (PNE) do decênio 2001-2011.

Além disso, observa que “a proposta do governo deveria estar espelhada na Conferência Nacional de Educação, mas não está”. Realizado em 2010, em Brasília, esse encontro representou a convergência de um ano inteiro de discussões nos municípios e nos estados, em 2009.

“Reconhecemos que o tempo diário que os alunos brasileiros ficam na escola, quatro horas, é um dos menores do mundo. Compartilhamos da ideia do PNE de que as escolas devam oferecer o ensino em tempo integral”, reiterou o secretário adjunto da Secretaria de Educação do Ceará, Maurício Holanda. Ele informa que já é implementado pela Seduc o Ensino Médio integrado à educação profissional, em tempo integral.

A experiência se encontra em vigência através das Escolas Estaduais de Ensino Profissional (EEEP's), que hoje somam 65 unidades na Capital e no Interior, atendendo 19 mil alunos.

A meta da Secretaria é ampliar a oferta, de modo que 20% da matrícula de ensino médio seja profissionalizante.
EXPECTATIVA

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O tempo integral na escola pública é o meu sonho enquanto educadora”
Maria Lúcia Mendonça GomesCoordenadora Escolar
"Tenho esperança de que essa medida seja mesmo aplicada pelo governo”
Francisca Moreira da SilvaDona de casa
OPNIÃO DO ESPECIALISTA
Ampliação da jornada requer investimento
A velocidade com que o Brasil vai superar a pobreza depende, em grande medida, da velocidade que o País conseguir imprimir à educação nos próximos anos. Uma das alternativas mais sugeridas por especialistas, desde a década de 50, é a de se aumentar o tempo de permanência das crianças na escola. Isto significa tanto aumentar a jornada escolar, das quatro horas de hoje para seis ou sete horas diárias, como aumentar os anos de escolaridade obrigatória, hoje fixados dos quatro aos 18 anos de idade. Embora muitas experiências de jornada ampliada estejam acontecendo com bastante sucesso, os recursos existentes e os modelos de planejamento escolar e lotação de professores não têm permitido a universalização desta prática em todas as escolas públicas do País. Na verdade, em muitas escolas não se cumpre nem as quatro horas diárias nem os duzentos dias letivos obrigatórios.

Paralelo ao esforço de aumentar o tempo de permanência na escola acontece o de promover mudanças curriculares que garantam a educação integral, ou seja, a educação das crianças em todos os seus aspectos humanos (cognitivos, emocionais, afetivos, corporais, culturais, artísticos e espirituais), o que exige que a educação não se restrinja à escola, mas aconteça em diversos espaços e canais públicos de comunicação e interação.

Propostas pedagógicas como as "Cidades Educadoras" ou "Comunidades de Aprendizagem" têm surgido como alternativas para difundir práticas integradoras de educação. Uma das grandes dificuldades para a consolidação do conceito está precisamente na estrutura urbana e no investimento social público. Muitas cidades brasileiras não oferecem espaços adequados para a prática de esportes, lazer e desenvolvimento da arte e cultura entre crianças e adolescentes.

Um direito básico, como é o de se ter pelo menos 80 horas anuais de educação física para crianças e adolescentes, não é garantido em grande parte das escolas brasileiras; em muitas escolas as manifestações religiosas de origem africana são ignoradas ou coibidas; noutras é impedido o direito de livre escolha e prática de credo; em grande parte do País crianças com necessidades especiais de aprendizagem ainda são isoladas ou não são atendidas nas redes privadas e públicas de educação.

Escola em Tempo Integral e Educação Integral, portanto, não são sinônimos, mas conceitos complementares. Tanto em um como no outro a palavra chave é investimento. Nenhuma das duas propostas pode acontecer e ter qualidade com níveis de investimentos de educação que temos hoje.
Rui Rodrigues Aguiar*Doutor em Educação Brasileira. Especialista em Programas do Unicef
PIONEIRO
Eusébio é pioneiro rede municipal
O Eusébio foi o primeiro município cearense a adotar o tempo integral nas escolas municipais - da Educação Infantil ao 9º ano do Ensino Fundamental. Na localidade, 91% das escolas ofertam a modalidade, abrangendo 30% do corpo discente, uma vez que o sistema não é imposto ou obrigatório.

Segundo a secretária de Educação, Marta Cordeiro, a chamada para matrícula é mais de conscientização da família e do aluno. “Atualmente, atendemos 3.599 alunos no Tempo Integral e no Projeto Mais Educação e até 2012 todos os alunos do Ensino Fundamental e Infantil estarão incluídos no projeto. E a procura é contínua e crescente, tendo dobrado em algumas escolas. Os pais vão despertando os interesses, na medida em que vão observando o sucesso dos filhos dos seus vizinhos”, argumenta.

De acordo com o coordenador do projeto Tempo Integral, professor Alexandre Souza Alves, inicialmente estão sendo priorizados os alunos que estejam vivendo em situação de risco, com famílias desestruturadas, ou sem condições de cuidados e alimentação.

A Prefeitura, para manter e ampliar o TI, criou 80 cargos de oficineiros, sendo 20 para a área de cultura, 20 para esporte e 30 para informática. O custo do projeto representa 30% a mais dos investimentos mensais com a educação no município

O prefeito Acilon Gonçalves (PSB) observa que, desde 2007, o Eusébio já vinha realizando experiências exitosas com os projetos Contra-turno e Segundo Tempo, onde os alunos permaneciam mais um período na escola. “O Tempo Integral no município é integral de fato. É educação em dois turnos. Os alunos são atendidos durante dez horas, sem interrupção, das 7 às 17 horas”, diz.

Além das atividades próprias do ensino regular, os alunos recebem aulas de formação cívica e espiritual, de artes, esporte, lazer e recreação, participam de sessões de cinema, de contação de histórias. Na própria escola há banheiros e vestuários. Há ainda a oferta do “almoço pedagógico”, no estilo self-service e constando de legumes, grãos, verduras, carnes e frutas.
EDUCADOR RESSALTA
Plano previa número maior de professores
No Plano Nacional de Educação do decênio anterior (2001 a 2011), a proposta de jornada ampliada não trazia percentual para a sua implementação em escolas da Educação Básica, ou seja, Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, explica o educador Idevaldo Bodião. Mas a proposta explicitava a necessidade de instalações e professores em número adequados. “Ficava subentendido que quem acompanharia a ampliação da jornada seria o professor”.

No PNE atual, nada disso está dito, esclarece Bodião, lembrando, ainda, que algumas escolas do País e até mesmo de Fortaleza já estão implantando o contra-turno, porém com monitores. “Via de regra os alunos têm no contra-turno um pouco de conteúdo, disciplinas como língua portuguesa e ciências e o restante do tempo é preenchido com atividades recreativas e culturais”, disse. Exemplifica que se no bairro da unidade de ensino há alguém que pratica esportes ou dança então a escola irá trabalhar com monitores nessas áreas, “recebendo baixíssima remuneração, tipo uma bolsa”.

Segundo ele, isso vem acontecendo em escolas brasileiras da rede pública com baixo Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Idep). “Às vezes, o que importa é tirar o aluno da rua e colocá-lo na escola. A intenção da ampliação da jornada é boa, mas a educação integral é bem mais que isso”.
Mozarly Almeida
Repórter

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=988833 

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