Um dia após mostrar os principais acertos da era Lula, O POVO aponta, com ajuda de especialistas, o maior fracasso do já quase ex-presidente, criticado por não cumprir a promessa de levar à aprovação as reformas estruturantes
Lula não utilizou seu alto capital político para levar adiante reformas que o País exige e que são consideradas fundamentais para o futuro (MAURICIO LIMA /AFP) Ficará para a neófita Dilma Rousseff (PT) o desafio de articular no Congresso Nacional a aprovação de mudanças cruciais na Constituição, como o financiamento de campanhas eleitorais, a redefinição na cobrança de impostos e as regras da aposentadoria – ajustes polêmicos, mas tidos como necessários ao desenvolvimento do Brasil em longo prazo.
O próprio Lula chegou a afirmar que, a partir de agora, será uma espécie de “pedra no sapato” do PT, cobrando empenho pelas reformas. “Uma pessoa com o capital político dele poderia, sim, ter plantado transformações mais substanciais aos sucessores. Lula não usou sua força para isso”, lamentou o economista e coordenador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, Marcelo Néri.
Nos últimos anos, o governo chegou a enviar ao Legislativo algumas propostas nesse sentido, chegando a aprovar versões iniciais de textos no campo tributário e previdenciário. A reforma política – bandeira defendida no discurso de quase todo candidato – perdeu espaço para mini-reformas eleitorais.
Segundo o cientista político Valmir Lopes, da Universidade Federal do Ceará, o medo de desagradar aos aliados e, assim, acabar perdendo dividendos políticos surgiu como obstáculo para a tramitação desses projetos. Para o especialista, Lula acabou se tornando refém de sua popularidade e do grande arco de alianças que conseguiu formar no Congresso. “Ao fazer isso, ele ficou incapaz de promover qualquer reforma institucional importante. Ao não fazer nada, ele não descontenta nenhum dos aliados, dos mais progressistas aos mais atrasados”, argumentou
Pragmatismo
O presidente também teria cometido exageros ao elevar à terceira potência o que se chama de pragmatismo político, em nome da governabilidade. É o que aponta Lopes e o também sociólogo Pedro Albuquerque, professor da Universidade de Fortaleza (Unifor). ''Houve um retrocesso a práticas que, antes, eram combatidas no País. O Congresso foi colocado como apêndice do Governo. As alianças não foram costuradas em função do viés partidário. Houve aparelhamento”, criticou Albuquerque, que fez questão de frisar que não se considera um anti-Lula.
Dilma foi eleita em moldes semelhantes e, assim como seu mentor, prometeu mudanças. As atenções e cobranças, agora, voltam-se para ela. Conseguirá a novata petista fazer o que nem o veterano chefe do Executivo foi capaz?
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