Por: Roberta Farias
Menos de 60 dias depois do governador Cid Gomes ter atacado duramente o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, acusando-o de ser " inepto, incompetente e desonesto", e de ter classificado o ministério de "laia" e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) de "quadrilha", a revista Veja desta semana comprova todas as acusações através da publicação da reportagem " O mensalão do PR" , quando mostra que há um esquema de cobrança de propina de 4% pela turma de Alfredo Nascimento.Apesar de permanecer na China negociando acordos comerciais para o Ceará, o governador Cid Gomes foi informado que a presidente Dilma determinou ao ministro Alfredo Nascimento a demissão de toda a cúpula do ministério dos Transportes. Caíram o chefe de gabinete, Mauro Barbosa, o diretor geral do Dnit, Luiz Pagot e outros assessores encarregados de cobrar dinheiro a empreiteiros que executavam obras de infra-estrutura para o ministério dos Transportes.
O governador Cid Gomes ainda não se manifestou sobre a denúncia publicada pela revista Veja que ameaça até demitir o próprio ministro Alfredo Nascimento nesta semana. A própria presidente Dilma foi alertada por Cid Gomes da situação de descontrole no ministério dos Transportes. Resolveu apurar e constatou que o órgão estava mesmo sem controle, segundo declaração publicada pela Veja. Por isso, Dilma nomeou as ministras - Gleise Hoffmann( Casa Civil) e Mirian Belchior (Planejamento) para monitorar todas as obras em execução no Brasil.
Com a demissão de seus principais auxiliares, o ministro Alfredo Nascimento tenta resistir a um pedido de afastamento do cargo, mas crescem as pressões em Brasília para que ele se demita e evite o constrangimento de ser defenestrado do ministério pela própria presidente Dilma.
Na semana que passou, a Assembleia do Ceará havia recusado a autorização para que o Superior Tribunal de Justiça(STJ) abrisse um processo contra o governador Cid Gomes por injúria e calúnia a pedido do ministro Alfredo Nascimento. Agora, com a revelação do esquema de corrupção no seu ministério através da revista Veja, o governador Cid Gomes pode até processar Nascimento pelo constragimento a que foi submetido.
Leia mais sobre esse assunto em reportagem publicada neste domingo pelo jornal Folha de São Paulo:
Ministro afasta cúpula dos Transportes
Segundo revista, membros do PR e servidores da pasta montaram esquema de superfaturamento e cobrança de propina
Nascimento diz não ter elo com acusações; saída de funcionários foi decidida depois de telefonema a Dilma
DE BRASÍLIA
Uma série de denúncias envolvendo o Ministério dos Transportes obrigou o ministro Alfredo Nascimento (PR) a afastar a cúpula do órgão.
Segundo reportagem da revista "Veja" desta semana, representantes do PR, funcionários do ministério e de órgãos vinculados à pasta montaram um esquema de superfaturamento de obras e recebimento de propina por empreiteiras e consultorias.
O ministro só tomou a decisão de afastar os servidores depois de conversar por telefone com a presidente Dilma. A Folha apurou que ela não descarta trocar o próprio Nascimento. Por isso, chamou-o para uma reunião. A administração de Nascimento já recebia críticas. No início de maio, o governador Cid Gomes (PSB-CE) chamou o ministro de "inepto, incompetente e desonesto" ao criticar a situação das rodovias federais no Estado.
A revista "Veja" citou como envolvidos no esquema de cobrança de propina o chefe de gabinete do ministro, Mauro Barbosa, o assessor do ministério, Luís Tito Bonvini, o diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Luís Antônio Pagot, e o diretor-presidente da estatal Valec, José Francisco das Neves.
Em nota divulgada ontem, o ministério informou que abrirá uma sindicância interna e determinou o "desligamento temporário" dos servidores para o "pleno andamento da apuração".
"PEDÁGIO POLÍTICO"
Segundo a reportagem, empreiteiros e consultorias de engenharia pagavam de 4% a 5% de "pedágio político" sobre o valor das obras do governo federal feitas com verbas do ministério. A maior parte da verba, diz a revista, é destinada ao PR, partido comandado por Nascimento e pelo deputado Valdemar Costa Neto.
De acordo com a reportagem, que chama o caso de "mensalão do PR", Valdemar escolhe as empresas que vão realizar projetos e obras de transporte do governo. A revista afirma que o servidor Bonvini é o emissário do ministro, e Valdemar leva os pagamentos das comissões ao PR. O chefe de gabinete do ministro, seria o responsável por liberar as verbas. Os diretores do Dnit e da Valec também são citados como membros do esquema.
Na nota, o ministro dos Transportes diz que "rechaça, com veemência, qualquer ilação ou relato de que tenha autorizado, endossado ou sido conivente com a prática de quaisquer ato político-partidário envolvendo ações e projetos do ministério".
Valdemar informou, por meio de sua assessoria, que não comentaria a reportagem por não ver qualquer fundamento. Pagot diz estar aborrecido. A Folha não localizou os outros envolvidos. (NATUZA NERY, DIMMI AMORA, CATIA SEABRA E BRENO COSTA)
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