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segunda-feira, 4 de julho de 2011

AO PÉ DA LETRA

Prof. Pasquale                    
 Prof. Pasquale 
Duas palavras sobre a vírgula (5)

Vamos continuar nossa conversa sobre a vírgula. O mote de hoje será uma questão da Fuvest em que se discute o emprego desse sinal antes do pronome relativo “que”. Há algum tempo, a banca do mais disputado vestibular do País pediu aos candidatos que explicassem “as diferenças de sentido entre estes dois enunciados”: a) “Os homens que têm o seu preço são fáceis de corromper”; b) “Os homens, que têm o seu preço, são fáceis de corromper”. Note, por favor, que os enunciados são muito parecidos, mas... Mas não são iguais. Se for preciso, releia-os.



É bom lembrar que, em ambos os casos, o “que” é pronome relativo. Esse “que” substitui a palavra “homens” (“Homens têm preço/homens são fáceis de corromper”), recupera esse termo e o introduz numa oração que se refere exatamente ao termo retomado. Pois bem, orações introduzidas por pronomes relativos podem agir de duas maneiras em relação ao termo retomado: a) limitam a extensão desse termo; b) referem-se a todo o universo designado por esse termo. Quando se diz, por exemplo, que o Brasil não deveria manter relações diplomáticas com os países que não respeitam os direitos básicos do homem, usa-se a oração “que não respeitam os direitos básicos do homem” para limitar (restringir) o universo de países. Não se afirma que o Brasil não deveria manter relações diplomáticas com todos os países do globo. Diz-se que apenas os países que não respeitam os direitos básicos do homem deveriam ser excluídos das nossas relações diplomáticas.

A oração “que não respeitam os direitos básicos do homem” é restritiva e, como se vê, não foi separada do termo anterior por vírgula, justamente por ser restritiva. É esse o caso da primeira frase da Fuvest (“Os homens que têm o seu preço são fáceis de corromper”). A oração “que têm o seu preço” limita a extensão do universo representado pelo termo “homens”. Não se fala de todos os homens, mas apenas dos que têm preço, dos que admitem “vender-se”. É como se se dissesse que há homens que se vendem e homens que não se vendem. Os do primeiro grupo (os que têm preço, os que se vendem) são fáceis de corromper. Vejamos outro exemplo do mesmo procedimento: “Os gregos que perderão o emprego são contrários ao pacote recentemente aprovado pelo Parlamento”. De quais gregos se fala? De todos? Certamente não.

Fala-se especificamente da parcela que perderá o emprego. A oração “que perderão o emprego” limita o universo formado pelo termo anterior (“gregos”), por isso não é separada dele por vírgula. Agora, pense neste caso: “O esporte preferido dos latino-americanos é o futebol. Constituem exceção os venezuelanos e os cubanos, que preferem beisebol”. A oração “que preferem beisebol” se refere a venezuelanos e cubanos, certo? Pode-se dizer que ela restringe o universo de venezuelanos e cubanos, ou seja, que se refere a apenas uma parcela dos venezuelanos e dos cubanos? Parece claro que não. O que se quer é dizer que, em geral, os venezuelanos e cubanos gostam mais de beisebol do que de futebol. Como não limita a extensão do universo do termo retomado pelo “que”, a oração “que preferem beisebol” é separada da anterior por uma vírgula. Pois é exatamente esse o caso da segunda frase da Fuvest (“Os homens, que têm o seu preço, são fáceis de corromper”). Nela se afirma que todos os homens de determinado universo (um clube, um partido político, uma casa legislativa...) têm preço e são fáceis de corromper. É justamente por não limitar a extensão do universo do termo retomado (“homens”) que a oração “que têm o seu preço” é separada do termo anterior por vírgula.Até segunda. Um forte abraço.
Pasquale Cipro Neto

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