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segunda-feira, 11 de julho de 2011

AO PÉ DA LETRA

Prof. Pasquale                    
 Prof. Pasquale  
"Montanhas o mais belas possível" 
Um leitor de Fortaleza me pede comentários a respeito da expressão “o mais belo possível” (e outras semelhantes). O leitor quer saber como se flexiona isso. Vamos lá, pois. Existem duas possibilidades de emprego desse tipo de expressão. Pode-se flexionar apenas o adjetivo que vem antes de “possível”, deixando-se invariáveis o artigo e a palavra “possível”: “Montanhas o mais belas possível”; “Imagens o mais claras possível”; “Meninas o mais graciosas possível”. Na verdade, a ordem pode ser alterada, desde que não se alterem as formas: “Meninas o mais possível graciosas”; “Meninas graciosas o mais possível”.



A segunda possibilidade é flexionar todos os elementos: “Meninas as mais graciosas possíveis”; “Montanhas as mais belas possíveis”; “Imagens as mais claras possíveis”. Como se vê, quando se adota o segundo procedimento, não se deve deixar invariável a palavra “possível”, ou seja, não se deve dizer ou escrever algo como “Meninas as mais graciosas possível”

Agora a pergunta é de uma leitora de São Vicente (SP). A questão dela diz respeito à expressão “mais das vezes”. A leitora quer saber qual é a forma correta: “o mais das vezes”, “a mais das vezes”, “as mais das vezes”? As formas que encontram registro na língua culta são “o mais das vezes” (esta é a mais frequente) e “as mais das vezes”: “Suas palavras são, o mais das vezes (ou “as mais das vezes”), meras repetições de discursos vazios, nos quais nem ele mesmo crê”.

Por falar em expressões que incluem a palavra “vez” e seu plural (“vezes”), convém lembrar uma pergunta que volta e meia me fazem a respeito da expressão “muita vez”, comum nos textos clássicos (no lugar de “muitas vezes”). As duas formas são absolutamente possíveis e corretas. Não se espante se encontrar “muita vez” numa obra de Machado de Assis ou de outro grande escritor do passado.

Outra expressão que deixa muita gente em dúvida é “de quando em vez”, absolutamente equivalente a “de vez em quando”. As duas são corretíssimas.

A última questão de hoje se refere ao uso do pronome “o” para substituir uma expressão feminina, como se vê nesta construção: “Muitos ainda acham que a presidente é durona, mas os fatos já provaram que ela não o é”. É essa a forma que ocorre no padrão formal da língua. Temos aí o pronome demonstrativo “o”, que equivale a “isso”: “Muitos ainda acham que a presidente é durona, mas os fatos já provaram que ela não é isso”. Nesses casos, o “o” não deve variar. Seria errado, pois, empregar “a” (“Os fatos já provaram que ela não a é”).

O caro leitor talvez já tenha visto num consultório médico esta famosa frase: “Atestado sem selo deixa de sê-lo”. Tradução: “Atestado sem selo deixa de ser atestado”, ou seja, “deixa de ser isso”. O “lo” nada mais é do que o “o”, que representa “selo” e se transforma em “lo” porque o verbo termina em “r”. Se trocássemos a palavra masculina “atestado” por uma feminina, como “receita”, o “lo” não seria trocado por “la”: “Receita sem selo deixa de sê-lo” (e não “deixa de sê-la”). Tradução: “Receita sem selo deixa de ser receita”, isto é, “deixa de ser isso”.

Este mesmo processo se vê neste escrito de Gonçalves Dias: “Que me enganei, ora o vejo”. O pronome “o” retoma e substitui toda a oração “Que me enganei”: “Ora vejo que me enganei”; “Ora vejo isso (que me enganei)”.

Até segunda. Um forte abraço..

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