A Capital cearense notabilizou-se, desde o século XIX, como a cidade rebelde, libertária. Foi aqui, no dia 27 de janeiro de 1981, que o pescador Francisco José do Nascimento, o Chico da Matilde, com sua ousadia e coragem paralisou o mercado escravista no porto de Fortaleza. Bradou ele, na ocasião: “A partir desta data nenhum negro escravo embarca ou desembarca neste porto”.
A paralisação do porto demorou cinco dias. Estava dado o mote para a libertação dos escravos no Ceará em 25 de março de 1984, quatro anos antes da Lei Áurea, assinada pela Princesa Izabel, libertando todos os escravos no território brasileiro. A partir daquela data Chico da Matilde passa a ser chamado de Dragão do Mar, e o Ceará de Terra da Luz.
A partir de então Fortaleza protagonizou inúmeros atos de rebeldia e de liberdade. E continua. Durante a ditadura militar (1964/1985), Fortaleza assistiu a muitas batalhas de rua contra a repressão. Foi a primeira cidade no Brasil a colocar milhares de pessoas nas ruas – a maioria estudante – protestando contra a prisão dos congressistas da UNE em Ibiúna, São Paulo, em 12 de outubro de 1968.
O auditório da Faculdade de Direito da UFC foi palco de inúmeros e emocionantes eventos contra a ditadura militar: palestras, debates, shows - sempre lotado. Todas as emoções vividas naquela época foram revividas na última sexta-feira 18. Com mais de mil pessoas, a maioria jovens estudantes, o auditório da Faculdade de Direito da UFC ficou pequeno para ouvir dois ícones do jornalismo brasileiro: Valdomiro Borges e Paulo Henrique Amorim.
Os dois participaram, a convite do Instituto Nordeste XXI e da revista do mesmo nome, do XXI Ciclo de Debates Nordeste Vinte e Um. Em seu blog, PHA descreveu o evento como “o inesquecível encontro de blogueiros sujos em Fortaleza...”. O editor da revista NE21, Francisco Bezerra, que com determinação e coragem ousou trazer os dois, se disse impressionado com a presença e empolgação da platéia. “Eu temia não conseguir lotar este auditório”, confessou Bezerrinha.
Miro Borges foi quem articulou a histórica entrevista do presidente Lula com os blogueiros progressistas de todo o País, no ano passado. Ele veio lançar o Centro de Estudo de Mídia Alternativa Barão de Itararé. É a terceira cidade onde fez o lançamento. Ele enfatizou, emocionado, que Fortaleza lhe surpreendeu pelo número de participantes, sendo superior a São Paulo e Belo Horizonte. Miro nomeou Francisco Bezerra para iniciar o debate, em Fortaleza, sobre a criação aqui do Barão de Itararé. Hoje acontece reunião-almoço com vários blogueiros cearenses para tratar do assunto.
Paulo Henrique Amorim chamou a atenção dos presentes para o que enfatizou ser os cinco crimes capitais da Globo, quais sejam: a TV dos Marinho começou como infratora, pois se tratava de uma extensão do grupo estadunidense Time-Life; a coonestação, em 1982, da fraude montada pelo governo Figueiredo com a empresa de “tecnologia” chamada Proconsult, para derrotar Leonel Brizola e dar a vitória ao candidato da ditadura, Moreira Franco, no Rio de Janeiro; esconder do público a campanha das Diretas-Já, anunciando no jornal nacional que uma multidão na Praça da Sé, em São Paulo, comemorava o aniversário da cidade; a criminosa edição do jornal nacional às vésperas da eleição presidencial de 1989, com os melhores momentos de Collor de Mello e os piores de Lula; e por fim a omissão do desastre da Gol, em 2006, em que morreram 154 brasileiros, e a mostra, à exaustão do dinheiro dos aloprados, levando a eleição para o segundo turno em 2006 com o candidato tucano Geraldo Alckmin.
Eu acrescentaria o 6º crime da Globo: a manipulação do desastre da TAM, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, no dia 17 de julho de 2007, quando morreram 199. Uma amestrada da Globo chamou o presidente Lula de criminoso, afirmando ser ele o responsável pela morte das 199 pessoas a bordo do voo da TAM. Posteriormente a perícia provou ter sido erro do piloto. Para o presidente Lula foi o pior momento dos seus dois governos.
Miro Borges e Paulo Henrique Amorim deixaram Fortaleza não só impressionados, mas com a certeza de que a luta pela regulação e democratização da comunicação está mais fortalecida que nunca, já que aquela juventude que lotou o auditório está disposta a ocupar ruas e praças para exigir do Congresso Nacional a aprovação da regulação da comunicação no Brasil a exemplo do que ocorreu nos chamados países de primeiro mundo como os Estados Unidos, Inglaterra, Espanha, Portugal, Espanha, Alemanha e muitos outros.
Fortaleza vai mostrar ao Brasil, mais uma vez, a sua rebeldia contra a ditadura midiática e na defesa da democracia.
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