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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O novo estilo no Planalto

Você tem visto Dilma Rousseff por aí? A não ser que seja ministro, parlamentar, autoridade estrangeira ou parente da presidente, você quase certamente só a viu, desde que virou presidente, em algumas poucas fotos ou raras imagens de televisão.

Dilma mudou o perfil de governar. O ritmo de trabalho se mantém intenso, mas o foco mudou. Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva comandava até três solenidades por dia, a nova presidente se dedica ao trabalho interno. Reúne-se com frequência com ministros, se debruça sobre os detalhes de cada projeto.

Até meados da semana passada, não havia estado à frente de nenhuma solenidade, não havia feito qualquer discurso. Não fez nem marcou data para nenhuma viagem oficial. Bem diferente de Lula que, na segunda semana de governo, em janeiro de 2003, promoveu uma caravana, com 28 ministros, para visitar algumas das regiões mais pobres do Nordeste.

Para compensar a falta de discursos públicos, Dilma se manifesta por meio de ministros, que atuam como porta-vozes após as reuniões, ou notas oficiais, que já abordaram assuntos diversos, do aniversário de um ano do terremoto do Haiti ao prêmio de melhor jogadora de futebol do mundo conquistado por Marta.


Mantendo hábito que traz desde o tempo de Casa Civil, a presidente almoça em seu gabinete, para não perder tempo. Na época de Lula, por insistência da então primeira-dama Marisa Letícia, ele fazia a refeição no Palácio da Alvorada. Já Dilma, para não comer sozinha, chama sempre algum ministro ou assessor para lhe fazer companhia e aproveita para tratar de trabalho. O ministro Antonio Palocci tem sido a companhia mais habitual.

As reuniões com grupos de ministros, a propósito, têm sido mais frequentes. Dilma prioriza mais o trabalho objetivo e menos o rito do poder, o blá-blá-blá e as simbologias. Em princípio, uma mais que bem-vinda mudança.

Boa para Dilma, pois tem evitado exposição e, com isso, não foi até agora alvo de críticas por eventuais deslizes em seus discursos, algo de que Lula foi tão frequentemente alvo. E boa para a administração em si, que ganha em objetividade e busca por resultados concretos.

Mas tem seu lado negativo. Primeiro, para o País, pois a função de presidente exige sim seus rituais simbólicos e tem como uma das funções primordiais a comunicação com a população. Pode parecer, mas não é adereço ou populismo. Pelo menos não necessariamente. Esse contato e essa comunicação são partes indispensáveis da relação representante-representado.

Não se pode exigir, evidentemente, de Dilma a mesma capacidade de comunicação que tinha o presidente Lula. Mas o trabalho de presidente não se faz só de despachos internos e sem a construção de uma empatia mínima com a população.

É bom lembrar que, em seus momentos mais críticos no poder, Lula se apegou à sua relação com a população e ao apelo de sua capacidade retórica. Dilma corre o risco de descobrir da pior maneira que só a gestão não resolverá todos os seus problemas.

A hora de decidir
Outro aspecto positivo apontado na nova era no Palácio do Planalto é quanto à forma de tomar decisões. Lula gostava de ouvir todos os lados, ponderar ao limite até formar um juízo. O que era ótimo. O problema é que ele, em muitos casos, demorava demais a decidir. O que é péssimo em muitos casos. Em outros, nem tanto.

Dilma vai pelo caminho inverso. Prefere se antecipar, ouvir um punhado de pessoas de confiança e que dominam o tema e tomar suas decisões com rapidez. O que é ótimo. Mas que pode se converter em problema.

Política é, em boa medida, habilidade para tomar não apenas a decisão correta, mas também saber o momento certo para decidir. Nem demorar demais, nem se precipitar.

Em pelo menos uma ocasião, a presidente já demonstrou ter consciência disso. Quando viu que as negociações do segundo escalão ameaçavam seu candidato a presidente da Câmara dos Deputados, tratou de jogar as definições para depois da eleição. Quando percebeu que o adiamento também era motivo para crise, antecipou algumas definições, sem bater o martelo, mas fazendo sinalizações.

Um bom começo para quem tem pela frente quatro anos para exercer a arte de administrar o tempo de decidir.
Érico Firmo
ericofirmo@opovo.com.br

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